O exercício da docência na atividade de seguros
1 – Introdução
Após 50 anos de trabalhos contábeis e 28 no exercício da docência de seguros em nível técnico, universitário e de pós-graduação, foram muitas as experiências acumuladas, as quais me permitem, com muita liberdade e coerência, formular algumas ponderações que talvez possam servir de referência a outros colegas que aspiram ou se dedicam ao magistério como um sacerdócio.
As ponderações aqui expostas têm como base um longo período de maturação profissional, aliado a uma observação contínua das reações manifestadas por integrantes de grupos heterogêneos, tanto em formação acadêmica quanto em objetivos profissionais e pessoais.
Face ao caráter de especialização das matérias por mim lecionadas, são muitos os obstáculos a serem transpostos, tendo em vista a falta de divulgação da atividade a que elas estão atreladas.
Seja no exercício da docência ou fora dela, nunca deixo de cultivar um bom relacionamento profissional e pessoal com os alunos e treinandos, buscando suavizar a aspereza das disciplinas e afugentar a síndrome contábil predominante entre eles.
Considerando os aspectos abordados passo a citar, despretensiosamente, minhas observações acadêmicas sobre o exercício da docência na atividade de seguros.
2 –A atividade
Embora estejamos no ano 2004, a atividade de seguros não desfruta da merecida atenção como as demais, isto porque o produto seguro, no Brasil, não é, ainda, um dos componentes da cultura de nosso povo.
Academicamente, a carência de literatura sobre a instituição do seguro prejudica a sua divulgação, estreitando cada vez mais o seu mercado de trabalho, e, principalmente, dificultando a tarefa do instrutor na formação da mão de obra qualificada, imprescindível às empresas do mercado.
Apesar de regulamentada por lei, e possuindo características próprias, ela não está livre da interferência de outras atividades na prática de suas operações, nem seu mercado está imune à invasão de empresas prestadoras de serviços e pessoas não qualificadas, que sobrevivem à margem da legislação de seguros, como verdadeiros agentes das sociedades seguradoras ou supostos representantes de profissionais legalmente habilitados para a intermediação dos negócios.
Trata-se de uma atividade promissora, lucrativa quando administrada adequadamente, um instrumento de preservação de patrimônios pessoais e empresarias, cuja continuidade e aperfeiçoamento exige de seus técnicos, profissionais e docentes uma atualização permanente, capaz de acompanhar as freqüentes mudanças do mercado.
A docência em seguros requer do educador uma noção perfeita dos conceitos básicos próprios da atividade, como também um conhecimento íntimo de suas operações típicas, de modo a propiciar-lhe as condições ideais para a transmissão de informações a terceiros, desprovidos, total ou parcialmente, daqueles conceitos.
3 – O currículo acadêmico
Regra geral as instituições de ensino técnico e superior cumprem as normas curriculares estabelecidas pelas autoridades, ficando a critério de cada uma delas a definição das disciplinas eletivas.
Observa-se que mesmo aquelas voltadas para os cursos de graduação em Ciências Contábeis, Atuária, Economia e Administração de Empresas, não contemplam em seus currículos acadêmicos disciplinas específicas aplicáveis na atividade de seguros.
Esse procedimento adotado pela maioria delas nos leva às seguintes conclusões:
a) Fundamentalmente, não há interesse dos estudantes em vincular-se ao mercado de trabalho de seguros por desconhecê-lo;
b) Em termos nacionais, as faculdades e universidades estaduais, federais e particulares esbarram com a escassez de profissionais especializados para compor seus quadros docentes;
c) A exclusividade no ensino e divulgação do seguro em nível técnico concedida a uma única instituição oficial, reconhecida por lei, inibe a oferta de cursos dessa natureza.
Por outro lado, constata-se que pouquíssimas instituições de ensino mantêm cursos específicos para a formação em negócios de seguros, além disso, as disciplinas relativas à área econômica e financeira são entregues em mãos de professores que, na maioria das vezes, nunca lidaram com o produto seguro, possuindo até formação acadêmica totalmente adversa, o que os caracteriza como autênticos teóricos..
4 – O modelo ideal
A exemplo do que ocorre, ainda hoje, com ramos de determinadas ciências, como na medicina, onde há, obrigatoriamente, um período de residência para a formação do médico, deverá ser dispensado igual tratamento aos formandos em seguros, mediante a realização de um estágio prático em uma seguradora ou corretora conveniada com a instituição de ensino.
Dessa forma, o aluno terá a oportunidade de fixar todos os conhecimentos teóricos transmitidos, utilizando-os de forma prática nas operações da empresa, que por sua vez poderá, de acordo com sua conveniência e necessidades, vir a contratar seus serviços como empregado.
Cabe destacar que ambas as partes serão beneficiadas, pois, o aluno estará apto para o desempenho das tarefas que lhe serão confiadas, e a seguradora ou a corretora não arcará com o custo do investimento para a sua qualificação técnica.
O modelo proposto poderá ser implementado de imediato, bastando para isso que as autoridades do ensino estejam sensíveis às deficiências dos estudantes e a demanda do mercado segurador, bem como, tenham a coragem de trocar o modelo atual, há muito ultrapassado, por outro de maior praticidade e eficácia.
Caso seja totalmente acolhido o novo modelo, a docência em seguros atingirá plenamente seu objetivo, formando bons profissionais para o mercado e promovendo a divulgação da instituição do seguro em todos os sentidos, como acontece nos países desenvolvidos.

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